Pela manhã demos continuidade à oficina de circo. Em um primeiro momento construímos bolinhas feitas de balão preenchidas com alpiste que serviram para criar um balangandão definitivo e também bolinhas de malabares. Estes objetos do circo são bem simples para se fazer com nossos alunos na escola.
Em um segundo momento a professora trouxe um aluno do ISE, Hermes, para nos apresentar mais possibilidades de recursos para serem utilizados. Diabolô, diabletes, perna de pau, argolas, claves, balangandão, fitas, malabares e o personagem palhaço, com sua entrada, caracterização, técnicas em cena e máscaras. Ele nos orientou em alguns movimentos experimentamos todos os materiais. Para fechar a nossa oficina de circo, preparamos um grande picadeiro onde mostramos com alegria toda a magia do circo que vivenciamos nos dois dias da oficina.
Mas o circo não pára em um só lugar! Desarmamos a lona, desmontamos o picadeiro e o próximo destino do circo vai ser nas nossas escolas, nas nossas aulas de Educação Física.
Durante a tarde continuamos a conversa com o Cláudio sobre os tempos escolares e os modelos de aprendizagem. Como os alunos devem se comportar para aprender? Em silêncio sem movimentar, e a relação da aprendizagem com o decorar e o recordar.
Não podemos deixar de criticar esses modelos, mas também temos que refletir sobre movimento como uma prática de linguagem. A partir de vários movimentos (as danças, o circo, a capoeira). E pensar também a ausência de som e de movimento em determinadas práticas de aprendizagem.
A arquitetura escolar esteve analisada pelo grupo. A quadra poliesportiva delimita em muitos momentos os conteúdos e os espaços utilizados pela Educação Física. Quando meninos tomam conta da quadra e as meninas ficam nos “cantos”, é reforçado as marcas do machismo da sociedade e os papeis de homem e mulher colocados em questão. O que nos preocupa e ao mesmo temos que ficar atentos é sobre o caráter natural dessas práticas. Isso foi construído e ao longo do tempo reforçado.
Os tempos escolares, 50 minutos para o aprendizado, gavetas de conhecimento, ensino x aprendizagem, foram também assuntos discutidos.
Encerramos as oficinas de temas da cultura corporal de movimento I e corpo, movimento e escolarização.
Vamos comentar, discutir, concordar, discordar, escrever e assim produzir conhecimento!
Abraços,
Graciele Maria e Gustavo Torquato
8 comentários:
Ei galera, é mesmo um desafio colocar o circo dentro do planejamento escolar, mas é bacana ver as caras e bocas no nosso grupo, imagina com os alunos?
vamos problematizar o tempo e a arquitetura escolar sim, afinal nós estamos tentando colocar em prática tudo que aprendemos nesse curso que tá cada vez mais emocionante. Abração a todos.
Muito boa a idéia lançada por vocês, de montar a tenda e seguir com o circo por outros espaços! Muito bacana mesmo. De repente ela nos dá dicas pra falar de arquitetura e espaço - como sugeriu Renatinho.
Por que o circo, que por essência é mambembe... É nômade... Circula por diferentes espaços, dialoga com diferentes pessoas, se vale de diferentes linguagens e nunca pára.
O quintal da nossa docência, aquele quintalzinho financiado pela CAIXA, conquistado à duras penas, pago com prestações a perder de vista, a vida inteira; dá-nos a falsa sensação de segurança, de que tudo passará, mas o quintal sempre será quintal, e sempre será nosso.
Confesso que fiquei por (muitas) vezes incomodada, sem lugar a partir de algumas conversas depois do almoço; estava tão segura do meu lugar de educadora, da minha área... E a visão compartimentada que por vezes criticamos nos contem. Pretensiosamente nos referimos às 'nossas' aulas, 'nossa' área.
Talvez o circo evoque, para alem das praticas, uma idéia, um sentido, pouco menos doloroso ou pretensioso. O quintal de onde falamos talvez não seja quintal, mas terreno baldio, que a gente invade, se apropria. Cada lugar, cada pessoa, cada realidade responde ou corresponde diferente; e demanda uma abordagem que o toque, sensibilize, convide para entrar. Ali a gente compartilha de experiências e de produções de cultura, criadas a partir de um contexto social, pessoal, histórico, que confere pertencimento; identidade.
E passa... para recomeçar em outro lugar (entenda lugar como outro horario, outra turma, outra escola, outro espaço, outras pessoas; nem nós somos sempre os mesmos!); não parece familiar?!
Talvez a primeira parte de participar do processo de ressignificação de espaços e tempos escolares seja reconhecer a transitoriedade e admitir que a estabilidade seja uma reconfortante mentira. E se essa estabilidade é virtual, está inaugurada a possibilidade de recriar qualquer tempo e espaço, sob determinada intenção que é histórica e social.
Não sei se entendi bem o que a Paola quiz dizer, mas como entendi, discordo . Acho que o que falta a nós professores é justamente essa apropriação da escola. São as minhas aulas, os meus meninos, a minha escola que dá sentido ao que faço. Hoje fiquei com raiva das nossas discussões desses sábados. Elas me apresentam tantas possibilidades, e acreditando nelas procuro modificar o andasso da minha escola. Fui criticada, ironizada, taxada de estrela querendo brilhar....A inércia é cômoda e contagiante. Posicionar-se diante de algumas pessoas e situações requer uma força que muitos não têm ou convém que não tenham. Ouvi coisas realmente desagradáveis e pensei...que pós é essa que me faz enxergar que é necessária e possível a mudança, mas que quando acredito nela e procuro mudar, me faz sentir impotente e sozinha?
Eu heim....Por isso discordo da Paola, prá mim se nos sentíssemos mais parte integrante e integrada da escola, essa mudança aconteceria efetivamente. Estou assustada, confusa, somos estranhos....muito estranhos!
Karla Costa.
É Karla, pagamos o preço por nossas idéias e ações.
Mas não é o alto preço que me convence a ser dona daquele espaço; posso e devo me responsabilizar por ele, mas ele não me pertence; é terra de todos e de ninguém onde diferentes pessoas, com interesses diferentes atuam. Aí critico essa estória de ser dono da escola, dono da sua matéria, dono das suas turmas. Pois não é a posse que me dá legitimidade. A posse me dá poder. E aí? Precisamos de mais poder ou legitimidade? O que precisa de legitimidade? Sou eu? É o meu projeto? É a minha ação que manifesta tudo isso? Legitimo para quem? Como conquistar isso?
Ali há relações de interesse, de poder, que não de desfazem ou se colocam em questão por acaso - pressupõem conflito. Elas transitam e se manifestam em diferentes praticas e ações, ora mais sutis, ora escancaradas; nós não estamos neutros ou imparciais.
A forma como a escola, os tempos escolares e as relações se estruturam dizem muito sobre as intenções da escola, a aposta nos sujeitos e as relações de poder. E pensar outra formação pautada em outros princípios por exemplo, demanda outras ações: refeitas, repensadas a partir de outros referenciais/intenções e sujeitos inseridos em uma realidade. Há que se reconhecer o limites de atuar sozinho; que por vezes o ímpeto e a garra pessoal não representam nada dentro do contexto onde se trabalha. Ali somos parte de um coletivo de pessoas (composta por professores, alunos, pais e outros) em uma teia de relações - e a escola não é carta branca, ela pode e deve assumir e propor novas formas a partir de outros objetivos. Por meio da escola não se consolidou por exemplo, o projeto de modernidade e ainda manifestam diferentes projetos de formação (muitas vezes, de 'cima para baixo')? Podemos subverter e estabelecer novas formas e formações, legitimo para a comunidade, emergente dela. Neste ponto, não consigo pensar nenhuma mudança significativa sem lançar mão do processo. Processo de ensinar, discutir, aprender, escutar, convencer, ceder, construir...
A escola é uma ambiente que nos contem, transforma e significa; nós tratamos de saberes e conhecimentos que transitam por ali em um tempo histórico e social, e passa, assim como nós passamos. Me inquieto ao pensar no que fica, o que representa e o que evoca a partir daí?
Paola.Muito legal seu posicionamento, confesso que tenho um pouco de dificuldade de me apropriar de suas palavras, e continuo contrária a algumas de suas colocações. Não percebo o apropriar-se da escola como posse ou jogo de poder. Concordo que estejamos de passagem. Estamos de passagem pela vida, que dirá pela escola , mas essa minha "passagem" tem que ser marcante. Vivo minha vida assim, como nessa pós: estamos de passagem por ela, mas vivo-a intensamente, discutindo, confrontando, divertindo, aprendendo. Não consigo ver a escola de forma diferente. Não acredito também num preço alto a pagar pelas minhas ações. Como também não acredito que as ações devam esperar o consenso coletivo. Ele não acontecerá nunca. E acredito que é essa espera que leva à inercia que a escola vive hoje. Acredito que minha ação, junto com a ação do outro, chamará a atenção de outro, e assim construiremos nossa teia. As decepções, frustações e medos têm duração de uma noite. Já estou cheia de novos planos e propostas. Estarei de passagem pela escola, mas farei de tudo prá marcar cada passo dessa estrada.... por ego, por posse, por poder, prá ser estrela? Não acredito. Um abraço, Karla Costa.
É isso ai o circo continua emocionando.E um projeto de circo na escola é riquíssimo, para o aluno e para nós professores.Com relação ao tempo e a arquitetura escolar, vamos buscar soluções.abrs.Ailton
Puxa! Fico muitas vezes preocupada com este estar na escola e ser parte dela. Gostaria de subverter mais ainda, ir além, mas o coletivo muitas vezes é pouco subvertido, acredita que não adianta. Espero "simplesmente" que a pós modernidade subverta na escola e nos torne assim, coletivamente mais íntimos desse espaço, desses sujeitos.
Graciele, comentário anterior.Abraços!!!!!!
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