domingo, 29 de junho de 2008

Respeitável Público...

Pela manhã demos continuidade à oficina de circo. Em um primeiro momento construímos bolinhas feitas de balão preenchidas com alpiste que serviram para criar um balangandão definitivo e também bolinhas de malabares. Estes objetos do circo são bem simples para se fazer com nossos alunos na escola.

Em um segundo momento a professora trouxe um aluno do ISE, Hermes, para nos apresentar mais possibilidades de recursos para serem utilizados. Diabolô, diabletes, perna de pau, argolas, claves, balangandão, fitas, malabares e o personagem palhaço, com sua entrada, caracterização, técnicas em cena e máscaras. Ele nos orientou em alguns movimentos experimentamos todos os materiais. Para fechar a nossa oficina de circo, preparamos um grande picadeiro onde mostramos com alegria toda a magia do circo que vivenciamos nos dois dias da oficina.


Mas o circo não pára em um só lugar! Desarmamos a lona, desmontamos o picadeiro e o próximo destino do circo vai ser nas nossas escolas, nas nossas aulas de Educação Física.

Durante a tarde continuamos a conversa com o Cláudio sobre os tempos escolares e os modelos de aprendizagem. Como os alunos devem se comportar para aprender? Em silêncio sem movimentar, e a relação da aprendizagem com o decorar e o recordar.

Não podemos deixar de criticar esses modelos, mas também temos que refletir sobre movimento como uma prática de linguagem. A partir de vários movimentos (as danças, o circo, a capoeira). E pensar também a ausência de som e de movimento em determinadas práticas de aprendizagem.

A arquitetura escolar esteve analisada pelo grupo. A quadra poliesportiva delimita em muitos momentos os conteúdos e os espaços utilizados pela Educação Física. Quando meninos tomam conta da quadra e as meninas ficam nos “cantos”, é reforçado as marcas do machismo da sociedade e os papeis de homem e mulher colocados em questão. O que nos preocupa e ao mesmo temos que ficar atentos é sobre o caráter natural dessas práticas. Isso foi construído e ao longo do tempo reforçado.

Os tempos escolares, 50 minutos para o aprendizado, gavetas de conhecimento, ensino x aprendizagem, foram também assuntos discutidos.

Encerramos as oficinas de temas da cultura corporal de movimento I e corpo, movimento e escolarização.

Vamos comentar, discutir, concordar, discordar, escrever e assim produzir conhecimento!

Abraços,

Graciele Maria e Gustavo Torquato

8 comentários:

Anônimo disse...

Ei galera, é mesmo um desafio colocar o circo dentro do planejamento escolar, mas é bacana ver as caras e bocas no nosso grupo, imagina com os alunos?
vamos problematizar o tempo e a arquitetura escolar sim, afinal nós estamos tentando colocar em prática tudo que aprendemos nesse curso que tá cada vez mais emocionante. Abração a todos.

Paola Educação Física disse...

Muito boa a idéia lançada por vocês, de montar a tenda e seguir com o circo por outros espaços! Muito bacana mesmo. De repente ela nos dá dicas pra falar de arquitetura e espaço - como sugeriu Renatinho.

Por que o circo, que por essência é mambembe... É nômade... Circula por diferentes espaços, dialoga com diferentes pessoas, se vale de diferentes linguagens e nunca pára.

O quintal da nossa docência, aquele quintalzinho financiado pela CAIXA, conquistado à duras penas, pago com prestações a perder de vista, a vida inteira; dá-nos a falsa sensação de segurança, de que tudo passará, mas o quintal sempre será quintal, e sempre será nosso.

Confesso que fiquei por (muitas) vezes incomodada, sem lugar a partir de algumas conversas depois do almoço; estava tão segura do meu lugar de educadora, da minha área... E a visão compartimentada que por vezes criticamos nos contem. Pretensiosamente nos referimos às 'nossas' aulas, 'nossa' área.

Talvez o circo evoque, para alem das praticas, uma idéia, um sentido, pouco menos doloroso ou pretensioso. O quintal de onde falamos talvez não seja quintal, mas terreno baldio, que a gente invade, se apropria. Cada lugar, cada pessoa, cada realidade responde ou corresponde diferente; e demanda uma abordagem que o toque, sensibilize, convide para entrar. Ali a gente compartilha de experiências e de produções de cultura, criadas a partir de um contexto social, pessoal, histórico, que confere pertencimento; identidade.

E passa... para recomeçar em outro lugar (entenda lugar como outro horario, outra turma, outra escola, outro espaço, outras pessoas; nem nós somos sempre os mesmos!); não parece familiar?!

Talvez a primeira parte de participar do processo de ressignificação de espaços e tempos escolares seja reconhecer a transitoriedade e admitir que a estabilidade seja uma reconfortante mentira. E se essa estabilidade é virtual, está inaugurada a possibilidade de recriar qualquer tempo e espaço, sob determinada intenção que é histórica e social.

karla costa disse...

Não sei se entendi bem o que a Paola quiz dizer, mas como entendi, discordo . Acho que o que falta a nós professores é justamente essa apropriação da escola. São as minhas aulas, os meus meninos, a minha escola que dá sentido ao que faço. Hoje fiquei com raiva das nossas discussões desses sábados. Elas me apresentam tantas possibilidades, e acreditando nelas procuro modificar o andasso da minha escola. Fui criticada, ironizada, taxada de estrela querendo brilhar....A inércia é cômoda e contagiante. Posicionar-se diante de algumas pessoas e situações requer uma força que muitos não têm ou convém que não tenham. Ouvi coisas realmente desagradáveis e pensei...que pós é essa que me faz enxergar que é necessária e possível a mudança, mas que quando acredito nela e procuro mudar, me faz sentir impotente e sozinha?
Eu heim....Por isso discordo da Paola, prá mim se nos sentíssemos mais parte integrante e integrada da escola, essa mudança aconteceria efetivamente. Estou assustada, confusa, somos estranhos....muito estranhos!
Karla Costa.

Paola Educação Física disse...

É Karla, pagamos o preço por nossas idéias e ações.

Mas não é o alto preço que me convence a ser dona daquele espaço; posso e devo me responsabilizar por ele, mas ele não me pertence; é terra de todos e de ninguém onde diferentes pessoas, com interesses diferentes atuam. Aí critico essa estória de ser dono da escola, dono da sua matéria, dono das suas turmas. Pois não é a posse que me dá legitimidade. A posse me dá poder. E aí? Precisamos de mais poder ou legitimidade? O que precisa de legitimidade? Sou eu? É o meu projeto? É a minha ação que manifesta tudo isso? Legitimo para quem? Como conquistar isso?
Ali há relações de interesse, de poder, que não de desfazem ou se colocam em questão por acaso - pressupõem conflito. Elas transitam e se manifestam em diferentes praticas e ações, ora mais sutis, ora escancaradas; nós não estamos neutros ou imparciais.
A forma como a escola, os tempos escolares e as relações se estruturam dizem muito sobre as intenções da escola, a aposta nos sujeitos e as relações de poder. E pensar outra formação pautada em outros princípios por exemplo, demanda outras ações: refeitas, repensadas a partir de outros referenciais/intenções e sujeitos inseridos em uma realidade. Há que se reconhecer o limites de atuar sozinho; que por vezes o ímpeto e a garra pessoal não representam nada dentro do contexto onde se trabalha. Ali somos parte de um coletivo de pessoas (composta por professores, alunos, pais e outros) em uma teia de relações - e a escola não é carta branca, ela pode e deve assumir e propor novas formas a partir de outros objetivos. Por meio da escola não se consolidou por exemplo, o projeto de modernidade e ainda manifestam diferentes projetos de formação (muitas vezes, de 'cima para baixo')? Podemos subverter e estabelecer novas formas e formações, legitimo para a comunidade, emergente dela. Neste ponto, não consigo pensar nenhuma mudança significativa sem lançar mão do processo. Processo de ensinar, discutir, aprender, escutar, convencer, ceder, construir...

A escola é uma ambiente que nos contem, transforma e significa; nós tratamos de saberes e conhecimentos que transitam por ali em um tempo histórico e social, e passa, assim como nós passamos. Me inquieto ao pensar no que fica, o que representa e o que evoca a partir daí?

karla costa disse...

Paola.Muito legal seu posicionamento, confesso que tenho um pouco de dificuldade de me apropriar de suas palavras, e continuo contrária a algumas de suas colocações. Não percebo o apropriar-se da escola como posse ou jogo de poder. Concordo que estejamos de passagem. Estamos de passagem pela vida, que dirá pela escola , mas essa minha "passagem" tem que ser marcante. Vivo minha vida assim, como nessa pós: estamos de passagem por ela, mas vivo-a intensamente, discutindo, confrontando, divertindo, aprendendo. Não consigo ver a escola de forma diferente. Não acredito também num preço alto a pagar pelas minhas ações. Como também não acredito que as ações devam esperar o consenso coletivo. Ele não acontecerá nunca. E acredito que é essa espera que leva à inercia que a escola vive hoje. Acredito que minha ação, junto com a ação do outro, chamará a atenção de outro, e assim construiremos nossa teia. As decepções, frustações e medos têm duração de uma noite. Já estou cheia de novos planos e propostas. Estarei de passagem pela escola, mas farei de tudo prá marcar cada passo dessa estrada.... por ego, por posse, por poder, prá ser estrela? Não acredito. Um abraço, Karla Costa.

Anônimo disse...

É isso ai o circo continua emocionando.E um projeto de circo na escola é riquíssimo, para o aluno e para nós professores.Com relação ao tempo e a arquitetura escolar, vamos buscar soluções.abrs.Ailton

Anônimo disse...

Puxa! Fico muitas vezes preocupada com este estar na escola e ser parte dela. Gostaria de subverter mais ainda, ir além, mas o coletivo muitas vezes é pouco subvertido, acredita que não adianta. Espero "simplesmente" que a pós modernidade subverta na escola e nos torne assim, coletivamente mais íntimos desse espaço, desses sujeitos.

Anônimo disse...

Graciele, comentário anterior.Abraços!!!!!!